Coveiro autista viraliza na web ao mostrar sua rotina no cemitério;
E que tal transformar as dificuldades em superação ou melhor, inspiração. Rafael Chaves, de 31 anos, virou um fenômeno no Tik Tok ao mostrar sua rotina como coveiro, sendo ele, autista.
Morador de Morro Agudo, em São Paulo, Rafael fala sobre como é lidar com o autismo e ainda mostra seu dia a dia dentro do cemitério.
Rafael recebeu o diagnóstico há pouco mais de um ano e recebeu o incentivo da esposa, a jornalista Silvia Helena Pereira Chaves, para criar o perfil no aplicativo de vídeos curtos.
Apesar de ser algo peculiar, sua vida sempre foi cheia de curiosidades, desde criança. Rafael conta que tinha facilidade em realizar algumas tarefas, outras nem tanto.
Na época, o seu diagnóstico foi confundido com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDHA), por não conseguir se concentrar em algumas atividades.
Mesmo sabendo que sua percepção rápida para certas coisas e para outras nem tanto não era normal, a família nunca pensou em levá-lo a um especialista.
A criança deve ter acompanhamento assim que apresentar sinais de autismo, porém o diagnóstico só pode ser dado após os 7 anos de idade.
A DESCOBERTA DO AUTISMO
Foi a partir do casamento com a jornalista que Rafael descobriu a dificuldade. Em 2019, eles se casaram e pouco tempo depois, Silvia começou a notar mais de perto o comportamento do marido e de cara o assemelhou a relatos de autismo.
Ela relata que vendo vídeos de pacientes e pessoas diagnosticadas com autismo, começou a perceber que o companheiro apresentava muitos traços parecidos.
Mas, segundo Silvia, Rafael teve depressão e uma infância muito conturbada e difícil. Então, ela não certeza ou não sabia distinguir se os traços eram devido as traumas sofridos quando criança, algo relacionado a depressão e ansiedade ou se realmente ele tinha autismo.
Após colocar na cabeça essa teoria, Silvia começou a incentivar o marido a ir médico e procurar um profissional que entendesse sobre o autismo. E então, poder tirar a dúvida.

O DIAGNÓSTICO
No entanto, o diagnóstico veio em outubro do ano passado. Sobretudo, a pandemia já havia começado e o casal passava grande parte do tempo em casa. A esposa convenceu Rafael a ajudar e inspirar outras pessoas que passam pela mesma doença.
Rafael conta que, no início, a ideia surgiu como distração para ele. Mas, com o passar do tempo, viu o carinho das pessoas, que mães de autistas o seguiam e agradeciam pela inspiração e então começou a enxergar de outra forma.

A DESCOBERTA DE UM CÂNCER E O TRABALHO DE COVEIRO
Rafael, graduado em teologia e comércio exterior, trabalhava como vendedor em uma loja de motos, quando descobriu um câncer nos testículos, em outubro de 2019.
Quando descobriu, contou logo ao proprietário do estabelecimento e falou sobre as restrições, inclusive a parada imediata de andar de moto. A intenção de Rafael seria que o dono entendesse que ele só poderia trabalhar na loja, mas acabou sendo demitido.
O dia era uma sexta-feira, Rafael chegou na empresa e entregou o laudo médico para a chefe. Passou o fim de semana, na terça-feira, a dona chamou ele e falou que estava dispensado, justificou dizendo que a “empresa estava com outras diretrizes”.
Rafael já tem histórico de câncer na família, perdeu sua vítima da doença.
Emprego de Coveiro
Foi então que surgiu a oportunidade na Prefeitura de Morro Agudo, o gestor abriu um processo seletivo e Rafael resolveu participar.
Ademais, desempregado e com o diagnóstico de câncer, ele realizou a prova no início de 2020 e como deve imaginar, passou.
Em julho, pico da onda de casos da Covid-19, Rafael começou a trabalhar como coveiro.
Segundo Rafael, apesar de vez ou outra, ver coisas assombrosas no cemitério, a oportunidade surgiu como uma forma de paz, preservação e manter-se um pouco sozinho.
Afinal, querer ficar sozinho é uma das características de quem tem autismo. No entanto, outras pessoas gostam da socialização. Por isso, se torna difícil distinguir.
Sobre as experiências do autismo, Rafael relata que atrapalha um pouco a convivência. Apesar de adorar se manter isolado, ele relata que nunca teve muitos amigos.
Então, trabalhar em um cemitério e passar a maior parte do tempo sozinho, não interferiu muito na sua vida.
Em alguns momentos, quando não tem nada para fazer no cemitério, ele fica sentado dentro do carro ou lendo um livro.
Rafael sonha ainda em realizar o desejo de abrir um ponto de lanches, continuar com os vídeos incentivando mais pessoas e sobretudo, provar que não há nenhuma dificuldade que não possa ser superada.
Fonte: G1